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O que é reciclagem têxtil?

A indústria da moda é uma das mais nocivas ao meio ambiente. Além de reciclar os resíduos têxteis, é preciso repensar a sua produção.

Uma pesquisa feita pelo governo de Nova Iorque aponta que 95% de todas as roupas, sapatos e outros tecidos podem ser reciclados, ou seja, se transformar em matéria-prima para outros processos de produção. Infelizmente, as roupas usadas poucas vezes têm este destino e um grande exemplo deste cenário são as montanhas de peças que se acumulam no deserto do Atacama, no Chile, que já podem inclusive ser avistadas do espaço.

A indústria têxtil é uma das grandes poluidoras do planeta. Além de consumir uma quantidade enorme de água e recursos naturais na produção, usa produtos nocivos como corantes e tecidos com grande quantidade de plástico em sua composição – que acabam se tornando micro plásticos. Na outra ponta deste processo está o descarte dos produtos: globalmente são produzidos anualmente 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis. Para se ter ideia da dimensão deste número, podemos imaginar que ele equivale a um caminhão de lixo com tecidos sendo jogados fora a cada segundo.

Nos Estados Unidos, cada pessoa joga “fora” (fora de casa, mas não do planeta) cerca de 70 quilos de têxteis por ano, o que equivale a 17 milhões de toneladas de lixo anual, das quais apenas 2,5 toneladas são recicladas. Sim, a reciclagem é uma possibilidade também para a produtos têxteis e precisa ser ampliada.

Resíduos têxteis

Os resíduos têxteis não são apenas um problema ambiental, mas também social. Com a ascensão do fast fashion nas últimas décadas, as roupas entram e saem de moda mais rápido do que nunca. As peças de vestuário são fabricadas de forma barata e rápida – muitas vezes por trabalhadores explorados – e a sua má qualidade significa que também vão durar pouco e ser descartadas rapidamente.

Estudos mostram que atualmente, compramos cerca de 60% mais roupas do que há 15 anos e ficamos com as peças durante metade do tempo. Mesmo quando as roupas são devolvidas aos varejistas, na maioria das vezes elas acabam em aterros sanitários, pois é mais barato do que colocá-las novamente em circulação – é o que acontece no Chile com a justificativa de que as peças que terminam no deserto seriam comercializadas.

A indústria da fast fashion é responsável por cerca de 10% de todas as emissões globais de carbono, que é mais do que as emissões de todos os voos e transportes internacionais combinados. Além disso, os tecidos tingidos são responsáveis ​​por 20% de toda a poluição da água. Com tanto tecido sendo produzido, a reciclagem de têxteis pode ajudar a dar outra vida a um pedaço de tecido – roupa ou não – e limitar a produção de novos tecidos.

Antes de reciclar, repensar, recusar e reusar

Assim como acontece com diversos outros materiais, reciclar resíduos têxteis é uma opção muito importante para a economia circular desta indústria. É urgente estimular a reciclagem e inserir novamente na cadeia produtiva aquilo que seria descartado e transformado em poluição. Mas, antes da reciclagem, existem outras opções ainda mais sustentáveis, os famosos Rs da Sustentabilidade.

A primeira alternativa é simplesmente repensar e recusar novas peças. Antes de comprar, ou até mesmo de produzir, é preciso avaliar a real necessidade deste item – “o produto mais sustentável é aquele que você não compra”.

Caso a compra e a produção sejam realmente necessárias, a qualidade e durabilidade dos produtos devem ser prioridades. Além disso, como consumidores, podemos optar por marcas que tenham um compromisso com a fabricação sustentável de suas roupas, diminuindo ao máximo o seu impacto ambiental e respeitando os direitos de todas as pessoas envolvidas no processo de produção.

Por fim, uma vez que as peças não vão ser mais usadas, elas podem ser doadas ou comercializadas em brechós e bazares – que também são ótimos lugares para quem quer fazer compras. Aí sim, depois de todas estas etapas, entra a reciclagem.

Como funciona a reciclagem de resíduos têxteis?

Quando levados a uma recicladora de tecidos, os itens têxteis individuais serão avaliados quanto à sua utilidade. De acordo com a Associação de Materiais Secundários e Têxteis Reciclados (SMART), dos Estados Unidos, os tecidos reciclados são frequentemente usados ​​para fazer trapos/panos de limpeza necessários em muitos setores, como construção, manufatura e trabalho de custódia.

Diferentes processos mecânicos são usados ​​para reciclar diferentes tipos de tecido. A principal diferença está entre os tecidos naturais e os tecidos sintéticos. Os resíduos têxteis são classificados por tipo (roupas, toalhas, etc.), tipo de tecido e cor. Depois de separados, os tecidos estão prontos para serem desmontados de duas maneiras: mecanicamente ou quimicamente. Como o processamento químico ainda é um método emergente e caro, o processamento mecânico é o principal modo de reciclagem.

Durante o processamento mecânico, o tecido é triturado ou separado em suas fibras individuais, processo especialmente importante para algodão e fios. As máquinas rasgam o tecido para quebrá-lo em suas fibras componentes, que são então alinhadas em um processo chamado “cardagem” que as deixa prontas para serem retecidas. As fibras são transformadas em fios que podem ser tricotados ou tecidos em novos itens.

Quando um pedaço de tecido não pode ser fiado novamente, ele geralmente se torna um enchimento para almofadas, sofás, colchões ou outros produtos. Outra opção é incorporar este material na produção de camadas isolantes para os mais diversos fins. Este processo não requer produtos químicos, o que o torna vantajoso, mas a trituração afeta a qualidade do fio à medida que as fibras ficam mais curtas, o que dificulta a confecção de roupas de alta qualidade.

Tecidos sintéticos

Nas etiquetas de muitas roupas é possível checar se a peça foi feita com poliéster reciclado o que, muitas vezes, significa que a fabricação inclui garrafas PET (tereftalato de polietileno) recicladas PET recicladas. Os tecidos sintéticos que utilizam poliéster geralmente utilizam misturas de vários materiais, o que os torna mais difíceis de reciclar – portanto, 95% do poliéster reciclado vem, na verdade, de garrafas PET. Essas garrafas são classificadas, trituradas em flocos, limpas e depois derretidas para formar novas fibras de poliéster.

Apesar de dar um novo destino aos resíduos plásticos, as roupas de tecidos sintéticos acabam librando uma quantidade grande microplásticos durante a sua lavagem e este poluente acaba chegando aos rios e oceanos pela água usada na máquina de lavar. Por isso, sempre que for possível escolher, a opção mais ecológica são tecidos de fibras naturais, comprados de marcas responsáveis ou em brechós.

Desafios da reciclagem têxtil

A reciclagem têxtil não é perfeita. As tecnologias de reciclagem exigem materiais consistentes para funcionar e os produtos de vestuário são variáveis. Corantes, acabamentos e outros produtos químicos exigem mais etapas e processos especializados, e impurezas como botões, zíperes e lantejoulas precisam ser removidas. Algumas peças de vestuário também contêm vários tecidos diferentes que precisam ser processados ​​de maneira diferente.

Muitas vezes, a qualidade do tecido é prejudicada com a reciclagem e o material virgem geralmente precisa ser incorporado em produtos reciclados para fazer uma peça de roupa de alta qualidade. Para o uso em enchimentos e fabricação de componentes isolantes, esta questão não é um problema.

 

Créditos da matéria: https://ciclovivo.com.br/

Créditos de imagem: Imagem reprodução Cliclo Vivo

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